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A busca da consciência plena.

Vivemos um tempo em que o pensar e o sentir são diagnosticados como e isso vem se tornando um problema para humanidade.





O sujeito contemporâneo vem ao longo da sua trajetória, se afastando cada vez mais da sua essência, sua consciência original. Inebriado pelos prazeres da vida, pelo uso excessivo dos sentidos e estimulado por uma medicina que insiste tratar doenças por meio da indústria farmacêutica, este suposto sujeito se perdeu, ou muitas vezes nem sequer se constituiu. A Filosofia do Yoga e a Medicina Ayurveda, ciências utilizadas há mais de cinco mil anos, se apresentam à Psicanalise como dispositivos clínicos, podendo ser utilizados como recursos terapêuticos, amparando o tratamento clinico dos pacientes.




" O sujeito é desejo. A existência do sujeito é correlativa à insistência da cadeia significante do inconsciente, porém como exterior a ela: é uma ex-sistência. Desejo logo ex-sisto”. (Quinet, 2000)



Sujeito Contemporâneo

Vivemos um tempo em que o pensar e o sentir são diagnosticados como e isso vem se tornando um problema para humanidade. A sociedade está criando robôs humanos, completamente medicados para romper com qualquer processo de dor. A indústria farmacêutica financiadora de grandes pesquisas científicas, afasta cada vez mais o sujeito da sua essência plena, encapsulando sonhos, mantando em estado entorpecido na mente. A cada comprimido ingerido, um sujeito que morre para sua consciência.

Somos geridos por um sistema, aonde o mercado que dita as regras precisa de pessoas altamente produtivas, com um enorme grau de qualificação para poder competir e se inserir em um mundo totalmente globalizado. Aprendemos a ler, escrever e falar diversos idiomas, mas somos incapazes de fazer uma leitura interna e procurar descobrir com que tipo de sensação muitas vezes estamos lidando. A identificação do sujeito com o ego, o afasta da sua essência vital. Aprendemos que precisamos ser alguém na vida, ter uma profissão, ganhar dinheiro e fazer sucesso. Essa é a fórmula perfeita de um sujeito realizado o mundo. A capacidade verdadeira de amar e pensar sobre a vida, sofrer com uma perda e poder viver o luto, sentir a dor de uma separação ou simplesmente se encantar com o voo de um pássaro, se tornaram coisas de uma outra época, aonde ainda nos era culturalmente permitido viver e sentir a nossa humanidade.

Em tempos de alta tecnologia aonde um simples click nos conecta com pessoas do outro lado do mundo, relações se iniciam e muitas vezes perduram através da tela de um computador. Fomos com o tempo nos afastando cada vez mais dos nossos órgãos dos sentidos, ficando distantes física e emocionalmente das pessoas que amamos e de nós mesmos. Nossos órgãos dos sentidos são afetados por um excesso de informações sonoras e auditivas, adoecendo cada vez mais a mente humana. Desta forma, vamos nos transformando em seres pouco perceptivos para vida, com dificuldades sociais e emocionais, com distúrbios criados a partir da falta de sensibilidade e de estrutura psíquica para que possamos nos manter psicologicamente saudáveis.

Olhar nos olhos, sentir o toque da mão, ouvir com o coração o que o outro quer dizer, se tornou quase que uma emergência médica para os dias atuais. Nos tornamos sujeitos vazios, com medos, fobias e traumas, intoxicados por uma alimentação altamente industrializada, por aparelhos eletrônicos, medicamentos psiquiátricos, por uma vida afastada da natureza, do silencio, do tempo de ser, tempo de crescer, do nutrir a alma, com calma, precisamos com urgência desse tempo de repensar.



Tempo de Repensar


“Como aprender esse sujeito que não tem substancia? O sujeito não é o eu, aquilo que apresento ao outro, meu semelhante, igual e rival, como sendo o que quero que o outro veja... " ( Quinet 2000 )


A partir deste ponto o sujeito, ou o que pode se chamar dele, segue caminhando por vielas aonde tudo passa a ser como uma nuvem fina, cobrindo os sentidos do corpo e da alma, privando-o de qualquer sentimento de angustia, raiva ou até mesmo prazer.

O sujeito contemporâneo, desenvolveu sentimentos de medo, pânico e fobias, vive em crises existências e tem dificuldade em se relacionar. A falta de comunhão com a própria essência, com a comunidade, a ausência cada vez maior dos pais, mergulhados em um mercado de trabalho que exige horas e horas de uma dedicação cruel, levam o homem a privação de sentimentos básicos como o amor, a frustação, e a amizade.

Nesse caminhar que vive a humanidade, a difícil tarefa de tentar nomear o que sentimos, acabou por identificar cada sentimento como se fosse um tipo diferente de doença. A ciência evoluiu muito nas últimas décadas e com essa evolução veio o CID (Código Internacional de Doenças)[1], uma enorme classificação das dores da alma trazendo junto a indústria farmacêutica com diferentes medicamentos para gerenciar o sofrimento humano. O problema é que há muito mais afetos no mundo do que palavras descritas em qualquer dicionário, e se não encontramos em nosso dicionário de patologias, um nome adequado a um tal sentimento, estaremos sempre acrescentando mais um código no CID e tantas outras descrições patológicas ao DSM (Diagnostic and Statical Manual of Mental Disorders) da humanidade contemporânea, criando uma infinidade de doenças que possivelmente nada mais são do que o fato que não suportamos sofrer. Se fomos a partir deste ponto contestar e repensar as regras do jogo, quem poderia tomar as rédeas de então nos dizer o que é certo ou errado. “Meu inconsciente me leva, com a maior tranquilidade do mundo, a dissabores que não penso atribuir-lhe em nenhum grau, pelo menos até me ocupar dele através dos meios refinados da psicanálise” (Lacan, 1966/1998).


O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhe conceberam um lugar permanente na economia de sua libido. Devemos a tais veículos não só a produção imediata de prazer, mas também um grau altamente desejado de independência do mundo externo, pois sabe-se que com o auxílio deste “amortecedor de preocupações” é possível, em qualquer ocasião afastar- se da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio, com melhores condições de sensibilidade. Sabe-se igualmente que exatamente esta propriedade dos intoxicantes que determina o seu perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis em certas circunstancias pelo desperdício de uma grande cota de energia que poderia ser empregada para o aperfeiçoamento do destino humano”. (Freud, 1929).


É nessa perspectiva que pensar sobre a psicopatologização nos faz refletir que o homem enquanto ser que deseja, sempre estará com algum tipo de sofrimento e inquietude na alma, e que esta inquietude é que o faz caminhar, desejar mais, se questionar. O termo psicopatologia traduz um discurso, um saber, sobre as paixões, a passividade (pathos) da mente, da alma (psiquê). Sendo assim, é preciso sempre haver uma conversa franca entre a psiquiatria, psicanalise e o sujeito, para que o mesmo esteja ciente que o medicamento estará tratando, nada além do próprio mal-estar subjetivo que lhe afeta a alma.

Este desamparo psíquico que atravessa a história da humanidade desde os primeiros tempos até hoje, vem se transformando em diferentes meios de dependência envolvendo toda uma sociedade, independente de tempo e espaço, de cultura ou religião. Estamos aqui falando de um vazio existencial, que sempre existiu e que levou o homem a procurar substitui-lo de diferentes maneiras ao longo dos séculos, ao invés de simplesmente olhar para dentro de si, e perceber a felicidade que cada um de nós já é, fomos ensinados a olhar para fora e tentar desesperadamente achar a solução para o mal que nos aflige.

Neste ensejo é que a Psicanálise, e a Filosofia do Yoga, vem de encontro, pois a ciência da vida, nos propõem a busca por uma existência mais saudável, partindo da observação de quem somos, do funcionamento do nosso organismo, da nossa psique e das nossas emoções, para a partir desse saber genuíno, encontrar o caminho para a quietude interior. Pensando a partir deste ponto, estamos fincando raízes num dos princípios básicos da sobrevivência humana, - o falar, o ouvir, o pensar, refletir, sentir, se emocionar, reviver histórias e sonhos para poder caminhar a vida dotado de tudo que nos pertence. Seria então o Yoga e a Psicanálise um dos canais para mantermos a nossa humanidade viva? Pergunto ainda, qual a nossa participação, como professores, psicanalistas, nesse processo que pode estar conduzindo a uma patologização da existência. Com que sentido devemos dar ouvido a fala do outro, sendo esse outro tão dopado dos seus próprios sentidos. “Na clínica atual das psicopatologias contemporâneas a transferência se apresenta como mola mestra do tratamento”. (Fontes, 2017)


Se temos então a Psiquiatria que por meio da escuta e da observação médica procura amenizar os sintomas do sujeito, temos a Psicologia do Yoga e a Psicanálise que irão ouvir este mesmo sujeito e procurar junto com ele caminhos para a reestruturação do campo físico, mental, emocional e espiritual. Juntar o aspecto clinico, psíquico e psicodinâmico para entender a história pregressa da pessoa, muitas coisas vão ser reveladas somente com o tempo. É na fala, muitas vezes não elaborada que irão surgir as reais questões do paciente. Ao se pensar na clínica atual, precisamos pensar também nos diferentes diagnósticos que surgiram nos últimos tempos, alguns destes se encontram com termos e entendimentos da Psicanálise, outros não. Muitas vezes hoje em dia na clínica fico me perguntando aonde anda aquele esquizofrênico que por tantos anos povoou clinicas e hospitais psiquiátricos. Hoje estes mesmos esquizofrênicos muitas vezes estão internados pelo uso continuo de drogas, normalmente a maconha e a cocaína. Acredito que vale então entendermos melhor como está constituída a clínica psíquica nos dias de hoje. “Quando recebemos aos supostos bipolares, constatamos que, na verdade, são psicóticos. Fizemos essa experiência no Hospital Sainte-Anne, aonde a cada quinze dias, continuo fazendo apresentação de casos. Quando chega um paciente bipolar, sai da entrevista com outro diagnóstico”. (Soler, 2016)


Quando falamos hoje das psicopatologias atuais precisamos entender como elas são descritas e estruturadas, para na clínica podermos atuar de maneira segura, escolhendo com o tempo o melhor caminho de tratamento para cada pessoa.

A Psicanálise constituiu o sujeito a partir de três estruturas clinicas; neurose, psicose e perversão, e dentro e entre essas estruturas encontramos diversos transtornos que são descritos como: Transtorno de personalidade social, transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade narcisista, transtorno de personalidade histeria, transtorno de personalidade obsessivo compulsivo, esquizofrênico, e outros transtornos psicóticos.

Porem apesar destes termos que aparentemente definem um sujeito, a Psicanálise lhe lança um olhar individual, quando ouve cada fala como única, e cada sujeito com uma história e uma trajetória que se molda com o tempo. Há um olhar que flutua, que se move de acordo com o desenrolar da análise, e isso permite que apesar de em determinado momento tratarmos de um sujeito que se encontra em um estado psíquico, em outro muda-se a direção do tratamento em função da própria fala, pois quanto mais observamos, mais descobrimos que ali vai sempre existir algo que falta. Esta falta é que determina muitas vezes a imprecisão diagnóstica. O que por um lado pode parecer um erro, por outro é isso que na Psicanálise vai dar Luz ao tempo e a verdade de cada um.







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